13 de fev. de 2022

A Terapia das Artes

 

Quadros Na Parede 

Pixels 

2022


Ou, como é reconhecido atualmente, a "Arte Como Terapia", não vai tornar o apreciador de qualquer arte em artista mas vai promover uma grande paz de espírito e mais confiança em si. Sobre ser ou não um artista plástico, falo sobre isto no post abaixo: O que é Obra de Arte? Alguém pode me explicar?

Mas este post aqui e dedicado aos apreciadores, que tanto se identificam com arte, a ponto de pensar em exercitar também um pouco. Eu conheci pessoas que nunca pretenderam se tornar artistas famosos, não encararam suas habilidades como profissão porém fizeram belos quadros. Na minha casa existem alguns quadros belíssimos assim, que herdei dos familiares, amigos e parentes. Caso você seja inclinado a isto, ao meu ver, deve sim gastar horas do seu precioso tempo em algo que só vai favorecer. Vamos chamar isto de "Hobby" ou abrasileirando, "Passatempo", que segundo a Wikipédia é a denominação dada a uma atividade de entretenimento livre que o indivíduo desenvolve sozinho ou coletivamente, mas não deve ser confundido com jogo, que é uma diversão envolvendo regras e determinados objetivos. 


Desde o século dezenove, talvez antes, sábios ilustres estudaram a arte como terapia, o que acabou resultando em ciências comprovadas e deu surgimento a Arteterapia, no entanto aqui não vou me aprofundar tanto, pois não falo de um tratamento mas apenas de uma prática social que pode interessar, como um auto melhoramento. Tanto é que as escolas, já reconhecem que oferecer oficinas de arte, ajuda o desempenho dos alunos em outras disciplinas. 

Talvez alguém discorde de mim, quando digo que esta prática promove bem estar, alegando: "Ao contrário, os artistas as vezes ficam nervosos e muito sensíveis quando estão mergulhados em suas criações!" É uma verdade sim. No entanto a cabeça dos artistas funciona de um modo diferente, muito parecido com a de qualquer profissional quando se depara com problemas a resolver em sua profissão. 


Para saber qual arte se deve praticar como Hobby apenas se descobre testando. Se você iniciar um curso de desenho e pintura ou comprar materiais para iniciar sozinho, deve experimentar uma grande paz que logo te leva a concentração. Se você não sentir isto, apesar de entender tudo que é ensinado, continua agitado, significa que está no lugar errado. Saia fora imediatamente e procure outra arte, até encontrar o seu lugar. 

Minha vivência neste campo, é bastante substancial. Dei aulas de pintura e desenho para adolescentes dois anos, ajudando a montar uma oficina de artes no bairro do Catumbi nos finais dos anos 80. Morei 4 anos na rua principal do bairro, em um daqueles casarios que foram "tombados historicamente" pelo governo, precisamente na Rua do Catumbi. Certa vez, nós moradores, recebemos o convite do Presidente da Associação de Moradores para uma reunião que tratava da oferta de se montar uma Oficina De Arte local, dirigida pela criadora do projeto, Marisa Cortes, que tinha todos os subsídios garantidos pela Fundação Rio, aqui no RJ. O Presidente da Associação, infelizmente não lembro mais o nome, que era proprietário de alguns casarios desocupados, ofereceu um casario enorme para a oficina e cedeu outro para a fundação de uma biblioteca infanto juvenil, que também começou a funcionar com a ajuda voluntária do povo local, de entendidos no assunto. Eu fui a reunião, me simpatizei com a iniciativa, trabalhei um ano como voluntária e no ano seguinte resolveram me pagar mensalmente, inscrita na folha de pagamento da Fundação Rio como "Orientadora Técnica", já que eu era de fato artista plástica, mas não tinha licenciatura. 

Precisei elaborar um curso para apresentar aos alunos. Meu aluno mais novo tinha nove anos, o mais velho quinze. No ano seguinte ainda eram os mesmos e a turma aumentou, apareceu até gente de dezessete. O desempenho deles foi excelente e me deixou satisfeita e admirada. 

No fim de cada ano, havia o bazar da Oficina onde os alunos de cada Orientador, doava um trabalho para a venda. O dinheiro servia de "caixa de melhoramentos" e incentivo para alunos em negociar se quisessem se profissionalizar. As obras dos meus alunos não eram vendidas mas foram exibidas em painel e notei que o público elogiava a todos como verdadeiros artistas em exposição. Contudo, em ateliê eu conversava com a turma aberto e claramente sobre a situação. Quando perguntei, "Quem pretende seguir a carreira de artista?" A maioria respondeu, "Quero ser médico, ou professor, administrador, etc e etc". Eu desconfiava que havia dois alunos, que pareciam ter fortes tendências. Apesar desta consciência que adquiriram, continuavam frequentando e a cada dia se tornavam mais equilibrados. Quando chegaram ali nas primeiras aulas, tinham muitos preconceitos sobre arte e entornavam tinta na mesa toda hora, riam por qualquer bobagem, tudo típico da inquietude efervescente da juventude. Eu desenvolvi o método de realidade e técnicas que rompem com as "bobagens infanto juvenis" para uma liberdade juvenil mais inteligente, por que o adolescente gosta de verdade e ser tratado com respeito. Aliás, quem não gosta? Lá para o meio do curso eu já saia da sala para ir tomar café e conversar com amigos professores. Ficava bem uns dez minutos ou mais e quando voltava estavam todos em silêncio, concentrados. Caso algum material sujasse a mesa, imediatamente era limpo sem constrangimento, sem incomodar. Antes de abandonar ateliê, tudo ficava em ordem para o retorno. Eu não ensinei, só orientei algumas vezes, mas a mente deles percebia rápido como agir e isto ocorre naturalmente dado ao exercício artístico de se encontrar soluções. Sinceramente aprendi muito, observando estes admiradores das artes plásticas, mas que não eram artistas, ou ainda não se reconheciam assim. Mas um dia, no ano seguinte me apareceu em sala uma jovem de uns doze anos, super ativa e inteligente que falava muito. Dois meses se passaram e continuava tal qual chegou. Aprendia tudo com facilidade, era educada mas sua agitação era desconcertante. Um dia chamei a mãe dela, que trazia a mocinha para a aula e expliquei o seguinte: "Sua filha é um amor de pessoa, muito inteligente mas não está se adaptando a aula de artes plásticas. Vamos procurar outra arte pra ela desenvolver aqui na Oficina." A mãe concordou e no mesmo instante fomos visitar, de sala em sala, as outras atividades. Havia alí, aula de macramé, batik, pintura infantil, papel machê entre outras e subitamente ela escolheu tapeçaria. Interessante é que ela era a única mocinha da sala, algumas jovens adultas e a maioria das alunas eram mulheres, senhoras bem mais velhas, que por sinal tinham grande habilidade e criatividade. Elas não faziam apenas tapetes. Comprei de uma delas uma bolsa super colorida que usei durante anos. Daí passei a espionar minha ex discípula e sempre a encontrava totalmente mergulhada e quieta.


Tomara que este texto sirva para incentivar, no mais espero que funcione. E mesmo que não se torne um artista plástico famoso divirta-se, decore sua casa, dê de presente. Quem sabe gostem e vá parar na estante ou na parede.