25 de jan. de 2024

VALORES ICONOGRÁFICOS INCONTESTÁVEIS

 2024


Antes de se julgar o artista ou sua obra, o público deve "aprender" a levar em conta o momento histórico que a obra foi realizada. Entre muitos valores importantes para se "meditar" uma obra de arte, talvez este seja um dos primeiros a se observar. Desde que a arte apareceu no planeta, ela cumpre dois seguimentos paralelos importantes e geralmente é o artista quem vai trabalhar isso. A arte poderá ser apenas iconográfica e registrar, como um retrato social, as atividades sociais. Na arte rupestre, trabalhada nas cavernas, feitas pelos artistas primitivos, para nós, o público, ela descreve a vida do cotidiano. Eles deixaram o registro das caçadas, dos combates entre os indivíduos, dos primeiros rituais. Um olhar mais apurado de peritos, observará mais valores expressos contidos nos achados rupestres. Mais adiante, no outro seguimento, a arte se revela estética. A ocupação maior é desenvolver no indivíduo o sentido de harmonia e padronização. Esta arte é quase sempre coletivizada, desenvolvida pela maioria das pessoas orientadas por um criador responsável nas tribos. Esta pessoa se destaca entre a população por claramente possuir um senso mais evoluído que aponta a harmonização de cores e formas, que geram a compreensão da beleza e os seus significados. Por isso o cocar dos Chefes é mais vistoso que os cocares dos outros e devido estas práticas estéticas se torna possível estabelecer uma linguagem, além da palavra. 

A prática estética é muito aplicada em festivais, festas comemorativas onde o povo se reúne para organizar festejos. No Brasil, é aplicada com muita responsabilidade e primor nos barracões de Escolas de Samba.

Os dois padrões não definem o que é certo ou errado, apenas carregam qualquer tipo de qualidade ou qualificação que se pretende apontar. 

Se o artista estiver retratando, quanto mais realista for, melhor será o retrato em termos ICONOGRÁFICOS documentais. Se o artista estiver criando, quanto mais esteticista for, melhor irá representar os atributos naturais visíveis ou sutis que se possa perceber, para projetar uma sensação e interpretação no observador. Para isso é preciso usar os elementos indicadores de época ou aqueles mais universais e realistas, entendidos pela maioria das pessoas não importando o tempo. Como a arte está em mutações constantes, a vertente estética produz padrões diferenciados, mas em qualquer caso tem que se guiar sempre por equilíbrio entre os elementos dentro da imagem.

 

Sempre que me deparo com a aguada abaixo, sinto uma dúvida: Será que o público vai entender que a criação é apenas uma representação iconográfica ou vão pensar que a artista é a favor das antigas práticas circenses, que usavam animais em espetáculos? Fiz esta imagem por volta dos meus dezesseis anos (por aí), treinando aquarela, que nem sabia ainda dominar. A bailarina representa a pureza da juventude e o elefantinho o amigo inteligente e bem treinado, ambos determinados a dar um belo espetáculo e arrancar aplausos eufóricos da platéia. No início da década de 70, um circo de cavalinhos, um grupo de focas amestradas  jogando bolas num picadeiro, provocaria estes sentimentos de alegria em toda a população infantil, juvenil e adulta mundial. Isto era certo e bastava para esgotar as bilheterias. Porém, nos anos 80 eu já não compartilhava desta visão e sentimento. Ao contrário, comecei a ver a exploração que havia por trás destes investimentos, embora saiba que em alguns casos raros e especiais exista sim uma parceria sincera e espontânea entre bichos humanos e de outras espécies. Em resumo, aos poucos fui me tornando uma ambientalista e hoje mantenho esta imagem como registro da minha evolução nas artes e como um documento ICONOGRÁFICO de época.  


A Bailarina

Aguada s/papel - Década de 70.

Expressionismo



Estamos em 2024 e guardada com muito zelo mantenho esta imagem original que talvez hoje tenha uns 52 anos, por aí. Ainda não datava as imagens e nem havia elaborado uma assinatura para usar de forma permanente. Durante muitos anos, remexendo os guardados e reencontrando o passado, me vi tentada a destruir a Bailarina. Sim, este é o nome, "A Bailarina". Mas o destino preservou a pintura e agora surgiu com o blog, a oportunidade de falar sobre este assunto. Isto se faz importante, quando encontramos este tipo de discussão sendo acirrado em redes sociais, quando artistas esteticistas são acusados injustamente de racistas e outras acusações, quando algumas pessoas não entendem os conteúdos das obra e preferem julgar os artistas. Já pensou se as pessoas se deparassem com as obras de Debret e o julgassem como "escravagista"?


O mesmo espero deixar claro desde já, quando atualmente faço arte reutilizando materiais descartáveis industriais. Falo deste tema no post abaixo, na matéria "O Novo Neoconcreto". Talvez algumas pessoas estejam inclinadas a pensar que sou extremamente favorável a perpetuar a sociedade de consumo, mas ao contrário não sou atualmente, nem contra nem a favor. Atualmente sou a favor de uma produção e produtividade mundial equilibrada, que espontaneamente saiba refrear os exageros e dar real e bom emprego aos elementos. Nos anos anteriores me envolvi bastante com as possibilidades de se criar sociedades alternativas, contudo não se pode descartar a produção coletiva efetiva sem gerar sérios desconfortos. O ideal é aliar um modelo ao outro e "manter o trabalho que desenvolve e o consumo auto renovável que abastece sem esgotar a natureza". No futuro, quando a "Era do Petróleo", já aparecer nos livros de história geral, descrita como um período desgastador, superado e finalizado, a maioria destes produtos industriais descartáveis que reutilizo nas minhas obras de arte, nunca mais serão encontrados aos montes nos lixões. Alguns estarão ainda nos brechós, outros expostos em museus ou nas prateleiras de colecionadores. Enfim, alguns elementos e objetos estarão integrados em esculturas e demais peças artísticas. Espero fazer parte destes expositores. 

TuliA


CONSULTE:


"Jean-Baptiste Debret - Escravidão no Brasil - Disciplina - História"

 http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=56&evento=1/

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"Museu de Brasília | Material iconográfico - Envio de materiais - Brasília"

 http://www.museuvirtualbrasil.com.br/museu_brasilia/modules/news3/article.php?storyid=61

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A Obra de Arte e Sua Leitura no Século Vinte e Um. 


Até poucos anos atrás a arte vivia atrelada aos interesses dos produtores investidores, que podiam contratar artistas, na maioria das vezes também ajudando na formação profissional dos estudantes de arte dentro das oficinas. Era difícil conseguir ganhar o pão, caso o artista fosse por demais independente e seguir somente sua inspiração, mas muitos conseguiam se sobressair apesar das grandes dificuldades. No entanto isto nem sempre foi assim. De civilização em civilização vemos claramente os momentos de liberdade e os momentos de subjugação das artes e dos próprios artistas. Depois do século dezenove, novamente a arte rompe seus grilhões após um longo período de acomodação aceitando os valores sociais, mas que também serviu de aprimoramento para muitos artistas dos períodos neoclássicos e impressionistas. Em dado momento na entrada do século vinte, artistas inovadores trazendo novas concepções, espanaram o marasmo dos conservadores e guardiões das academias e trataram de fazer o que tem que ser feito, demostrando, evoluindo e compartilhando para ajudar a humanidade expandir a consciência. Sempre que acontece, surge também um pessoal com certa dificuldade de acompanhar o processo evolutivo e não raro, repetem os mesmos velhos erros de avaliação. Isto é comum, porém também faz parte combater tal tendência e colocar os "bondes nos trilhos", para evitar desastres. 


Quando Picasso pintou Guernica, conta-se que um oficial da SS lhe perguntou, apontando para a pintura "Foi o senhor que fez isso?". Picasso respondeu: "Não, o senhor".



"1937: Bombardeio de Guernica – DW – 26/04/2019"

 https://www.dw.com/pt-br/1937-bombardeio-de-guernica/a-800994

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COMENTÁRIO:


"Não se pode provar mas não é raro que em muitas críticas feitas a artistas ou suas obras, encontramos embutido as sementes venenosas dos críticos, nos próprios críticos. Até mesmo alguns intelectuais, críticos de arte e pessoas ilustres, foram infelizes em seus julgamentos diante das obras inovadoras e isto vem continuamente ocorrendo ao longo da história das artes. É uma lição de vida tão repetida e tanta gente ainda cai nessa." Impressionante!!